domingo, 10 de maio de 2015

A un gato (Jorge Luis Borges)

No son más silenciosos los espejos 
ni más furtiva el alba aventurera; 
eres, bajo la luna, esa pantera 
que nos es dado divisar de lejos. 
Por obra indescifrable de un decreto 
divino, te buscamos vanamente; 
más remoto que el Ganges y el poniente, 
tuya es la soledad, tuyo el secreto. 
Tu lomo condesciende a la morosa 
caricia de mi mano. Has admitido, 
desde esa eternidad que ya es olvido, 
el amor de la mano recelosa. 
En otro tiempo estás. Eres el dueño 
de un ámbito cerrado como un sueño.

A um gato

Jorge Luis Borges

Os espelhos não são mais silenciosos,
nem mais furtiva a alba aventureira:
és, sob a lua, essa pantera
que vemos de soslaio. 
Por obra indecifrável de um decreto
divino, te buscamos em vão:
mais remoto que o Ganges e o poente,
tua é a solidão, teu, o segredo. 
Teu lombo acede à amorosa
carícia da minha mão. Admitiste,
desde esta eternidade, que já esqueceste
o amor de minha mão receosa. 
Estás em outro tempo. És o dono
de um lugar fechado como um sonho.

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta